Eu estava ouvindo uma música, e algo surgiu como um sussurro na alma, um insight que parecia atravessar o tempo e as tradições. E se, afinal, as divindades não estivessem lá fora, num plano inalcançável, distante?
E se elas estivessem aqui, dentro de nós, pulsando no mesmo ritmo que o nosso coração?
Não foi hoje que comecei a perceber que o que está dentro se manifesta fora, e que as entidades são, antes de tudo, internas. Essa não é uma novidade para mim. Já venho estudando, buscando compreender essa relação, essa dança entre o visível e o invisível, o dentro e o fora, o sagrado interno e externo. Mas o que veio agora foi uma clareza, uma forma nova de entender como isso funciona, um insight que atravessou tudo que já sabia e deu um novo sentido a essa verdade antiga.
E se, quando oramos, rezamos para uma entidade, para uma força externa, na verdade estivéssemos dialogando com partes nossas, reflexos, arquétipos, fragmentos de um eu maior?
E se toda a espiritualidade que conhecemos, aquela que se manifesta em ritos, oferendas e orações, fosse antes de tudo um espelhamento do que habita no mais profundo do nosso ser?
Essas perguntas me vieram com força, e eu te convido a mergulhar nelas comigo.
Será que o Deus que você aprendeu a temer ou amar está realmente lá fora? Ou será que Ele — ou Ela — está dentro, aguardando que você a reconheça como parte da sua essência?
Mas, Dani, você está me dizendo que tudo aquilo que aprendi até hoje está errado?
Não. Eu não estou dizendo isso. Estou apenas perguntando: e se fosse diferente?
E se as entidades, as divindades, fossem como espelhos vivos que vibram na mesma frequência que a nossa alma, e a conexão verdadeira só acontecesse quando a gente reconhece nelas o que também existe em nós?
Reflexos da Alma
Quando oferecemos uma oração, uma oferenda, um rito, não seria essa energia um movimento para dentro, tanto quanto para fora?
Esse olhar muda a relação com o sagrado, transforma súplicas em encontros, dependência em responsabilidade, admiração em comunhão.
Aqui entra a dança sutil e misteriosa dos arquétipos.
Os arquétipos são forças primordiais, padrões energéticos que moldam não só as formas da existência, mas as próprias essências do que somos. Eles são o alicerce invisível por trás das divindades, das entidades, das energias que reverberam em rituais e crenças de todos os tempos e lugares.
Oceano em um gota
É por meio deles que panteões diferentes encontram pontos de diálogo, que sincretismos nascem, e que ritos de povos distintos guardam ecos semelhantes.
Assim, Oxalá pode se encontrar com Jesus, Iemanjá com Nossa Senhora, e Kali com Hécate, porque todas carregam, em essência, um código vibracional comum, uma mesma frequência primordial que se manifesta em diferentes roupagens culturais e históricas.
E, se tudo está dentro, o que há fora é simplesmente uma projeção dessa infinita rede interna.
Somos fragmentos do Todo, fractais de Deus que carregam em si o universo inteiro.
Tu és um oceano e ao mesmo tempo uma gota d’água.
Tu és o Eu e o Outro.
Tu és a manifestação e o manifestador.
Não de um modo consciente, porque consciência linear e totalidade ainda não caminham lado a lado em nós, mas de um modo vibracional, energético, invisível.
O que reconhecemos no outro, na divindade, na entidade, é um reflexo do que pulsa dentro da gente, mesmo que o véu da separação insista em nos dizer o contrário.
Será que, então, não é hora de desconstruir o velho modelo da espiritualidade como algo que “vem de fora” e abraçar a ideia revolucionária de que o sagrado está em cada célula, em cada suspiro nosso?
Será que não podemos aprender a orar não para um Deus distante, mas para a Deusa que habita nosso ventre, o Pai que reside em nosso peito?
Será que não é esse o caminho para assumir a nossa totalidade, a responsabilidade pela nossa jornada, e a comunhão verdadeira com o que é?
E o que você sente quando lê isso?
Isso faz sentido para você?
Ou será que ainda precisa de tempo, de questionamento, de caminhadas para que essa ideia possa florescer?
A espiritualidade é um jardim vasto, cheio de caminhos e mistérios. E talvez o maior presente seja aceitar que as respostas não vêm prontas, mas se revelam no movimento da busca, na dança entre o dentro e o fora, o visível e o invisível, o silêncio e o sussurro.
Em resumo, a jornada para o sagrado pode ser uma viagem para dentro. Ao invés de buscar a divindade apenas em ritos, templos ou em um plano distante, podemos começar a enxergá-la como um reflexo de nossa própria essência.
A espiritualidade, vista por essa lente, deixa de ser um conjunto de regras externas e se torna uma dança interna entre o que somos e o que anseia por se manifestar. Os arquétipos e as divindades, longe de serem figuras externas, tornam-se espelhos que nos convidam a reconhecer em nós a mesma força, beleza e complexidade que tanto admiramos nelas.
Ao aceitar a responsabilidade de ser o manifestador da sua própria realidade e o guardião do seu sagrado interno, você não apenas redefine sua fé, mas se aproxima da sua própria totalidade. A verdadeira oração pode ser o ato de reconhecer a divindade que pulsa em seu peito, e a comunhão mais profunda, o encontro silencioso com o universo que já habita em você.